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quarta-feira, 30 de março de 2011

Atividades Culturais, para quê?

A justificativa para as atividades culturais, além das que são lógicas para o pessoal da arte, é a de que as artes também são linguagem e é de extrema importancia que as crianças alfabetizandas sejam mergulhadas num universo de muitas manifestações de linguagem.


Do ponto de vista dramático, o viver emoções em grupo (como as que nos proporciona a apreciação de uma boa obra de arte) nos ajuda a nos constituirmos mais solidamente enquanto grupo, idéia fundamental para que todos aprendam , já que a aprendizagem é um fenômeno estritamente social; por outro lado, ninguém saí de uma boa atividade cultural do mesmo jeito que entrou.

A arte sempre consegue dialogar com nossos espaços mais escondidos, com o nosso inconsciente. Uma boa experiência cultural sempre provoca deslocamentos existenciais.

Partindo do princípio de que a aprendizagem se dá por rupturas e através da elaboração de problemas, a vivência em uma atividade cultural, para os alfabetizandos (neste caso) simboliza as rupturas que eles terão que fazer ao longo do processo de alfabetizaçaõ! Eles precisam preparar-se do ponto de vista simbólico para a grande mudança existencial: sair da condição de analfabetos, numa comunidade em que o conhecimento formal ainda não foi conquistado e passar a outra, a de alfabetizado, letrado, capaz de acessar o conhecimento historicamente construído por nossos antepassados.



Obviamente que estes encontros produzirão impulsos criativos que deverão ser organizados didaticamente para que produzam resultado.

Pinturas dos próprios alunos, pensei em modelagem, teatro e é claro, música que é minha área de maior capacidade.

A idéia é organizar apresentações para o aniversário da escola, festa da família, semana da criança e natal, fundamentalmente, mas nada pode ser previsto assim com tanta objetividade. A história da turma se constrói ao caminhar.

terça-feira, 22 de março de 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Sobre as aulas-entrevistas

A realização da aula-entrevista é um momento marcante entre o professor e o aluno.

É inegável o choque cultural e o constrangimento para ambos os lados.
Cada um com suas representações e símbolos sobre o mundo.
O professor conhecedor do código alfabético e o aluno que o quer conhecer e tem suas hipóteses sobre este conhecimento.
Neste momento, o professor tem o poder em sua mão.
Ele pode escolher entre acolher estas hipóteses, sejam quais forem e sobretudo, acolher este aluno em seu universo ensinante com tudo o que ele traz ou não consigo, ou elencar valores para que escolhidos conquistem este conhecimento.
Realizar as aulas-entrevistas, na perspectiva geempiana/pós-construtivista, é algo fascinante.
Ou seja, realizar as aulas-entrevistas para descobrir e aprender sobre o processo do aluno é algo entusiasmante, porque vemos ali toda a sua inteligência.
Os erros que poderiam apavorar ou revelar dificuldades para outras perspectivas, nesta teoria são vistos como hipóteses super inteligentes!
Revela a inteligência vibrante de cada um! Seu pensamento ativo e criativo!
Como eles inventam soluções lindas para seus problemas na aula-entrevista!
O rede de hipóteses de cada um no campo conceitual da alfabetização é singular e única!
Realizando as aulas-entrevistas percebemos que todos são inteligentes, que pensam e que portanto, podem aprender e sobretudo que dependem de nosso profissionalismo e competência para ensiná-los.

terça-feira, 1 de março de 2011

Acolher é receber o aluno inteiro!

Início do ano letivo – momento de acolher


Janice Viegas Pereira

Pedagoga e Alfabetizadora pós-construtivista



A rede teórica pós-construtivista sustenta que o primeiro contato entre um professor e seus alunos necessita ser marcado por uma atitude de acolhimento deste. A construção de vínculos de confiança e respeito depende desta acolhida, sendo o primeiro e importante movimento na direção da inclusão de todos os alunos no “universo ensinante” desde o primeiro encontro. O grifo na palavra todos se deve ao fato de que esta teoria trata a palavra todos em seu significado absoluto, ou seja 100%.

Porém, o significado de acolhimento de acordo com as idéias pós-construtivistas se desdobra em dois eixos: o pedagógico e o didático.

Então, nestes dois eixos, o que significa para o pós-construtivismo a palavra acolher, no contexto da sala de aula, ou mais especificamente, no início do ano letivo e mais especificamente ainda, no primeiro ano escolar?

Segundo Luft, acolher significa: 1. Dar acolhida a; receber. 2. Aceitar (opiniões, idéias). P. 3. Abrigar-se; refugiar-se. Traduzindo do dicionário Larousse em español, significa ainda receber alguém com uma atitude determinada.

Quando damos acolhida ou recebemos alguém em nossa casa, a primeira atitude prática que tomamos é a de abrirmos a porta e deixarmos entrar. E deixamos entrar a pessoa inteira. Nenhuma parte sua fica do lado de fora.

No contexto da sala de aula, este acolhimento pode ser simbolicamente considerado como a atitude de deixar entrar para o processo de aprendizagem o aluno inteiro, com tudo o que ele traz, assim como com o que lhe falta, sem concepções pré-estabelecidas sobre o que ele é ou deixa de ser.

Pensemos no significado “aceitar opiniões e idéias”.

“Opinião”, ainda segundo Luft significa modo de ver, de sentir a respeito de um assunto; parecer. Já a palavra “idéia” traz como significados: representação mental; imaginação; elaboração intelectual; concepção.

Do ponto de vista didático, acolher o aluno alfabetizando significa na prática, aceitar o que ele pensa sobre ler e escrever como uma idéia legítima.

Gabriel, ao receber duas palavras e ao ser informado de que uma delas era PORQUINHO e a outra era LOBO, imediatamente se pronunciou:

- Ah! É muito fácil! Esta grande aqui (se referindo a PORQUINHO) é LOBO.

Um professor desavisado e sem conhecimento sobre os níveis da psicogênese da aprendizagem da língua escrita não perceberia que esta criança já galgou um grande degrau rumo a este conhecimento do código alfabético, pois já superou a idéia de que escrever é desenhar e também não perceberia que o aluno conserva desta concepção anterior uma ligação da imagem com a palavra, ou seja, pensa que:

- Ok, escrever não é desenhar, mas uma coisa grande necessita de muitas letras para ser escrita.

Ele ainda relaciona a imagem com a escrita e não a fala com a escrita, portanto está no período logográfico desta construção e necessita ser acolhido para que se sinta seguro acerca de sua inteligência e tenha coragem de superá-lo.

No âmbito da pedagogia, acolher precisa considerar o movimento psico-social que acontece com a entrada de um filho na escola.

Victor, 6 anos incompletos, chegou chorando, segurando a mão da mãe e resistindo a entrar na sala de aula.

Muitas professoras o pegariam ou tentariam pegá-lo no colo, lhe dariam beijo, lhe tratariam com palavras no diminutivo, assumindo a atitude mais parecida com a materna possível e visando minimizar a percepção da ruptura que está acontecendo no momento; ou tentariam lhe acalmar com promessas de brincadeiras e muito prazer.

Sabendo que esta ruptura precisa ser enfrentada para a construção de um psiquismo saudável e sabendo que nenhuma ruptura se dá sem a presença da dor, minha atitude foi a de aceitar (deixar entrar, acolher) seu sofrimento:

- Victor, eu sei que é difícil o que estás sentindo! É mesmo difícil sair da casa da gente, deixar a mãe e as pessoas que a gente já conhece para conhecer outras pessoas. Colegas novos, professora nova, escola nova. Eu sei que é tudo diferente, mas tu tens que ter coragem! Podes ter certeza de que alguns colegas teus aqui dentro também estão com medo, mesmo que não estejam chorando! Vem comigo! Podes chorar o quanto quiseres e precisares! Tu vais ver que daqui a pouco nem tudo vai parecer tão assustador assim! E se precisares de alguma coisa, estou aqui pra te ajudar! Turma, o Victor está um pouco nervoso, mas vai passar! Vamos ter paciência e carinho com ele!

Creio que não preciso dizer que em cinco minutos Victor já estava sorrindo e fazendo amigos na sala.

No âmbito pedagógico, a acolhida também precisa considerar os pais.

A mãe do Maurício chegou agarrada à mão dele e não queria soltá-lo. Dizia insistentemente que ele teria saudade do bico e que se ele chorasse era pra chamá-la. E ele estava quase chorando para satisfazê-la.

Se eu forçasse uma separação sem considerá-la, o próprio Maurício seria ser penalizado, pois ficaria inseguro sobre assumir a ruptura que ele estava desejoso de fazer. Sentir-se-ia culpado, pensando que seu desejo de crescer só poderia se concretizar a custa do sofrimento que estaria provocando à mãe.

Sabendo que o sentimento de ruptura pertinente à entrada na escola também envolve sofrimento para os pais, eu lhe disse:

- Eu sei que é difícil! Sei que para as mães eles parecem tão pequenos! Dá um medo de perdê-los para o mundo! Mas ele precisa da tua coragem! Solta a mão dele e deixa-o entrar. Eu sou a professora dele! Pode confiar que ele vai aprender muito e que vai voltar para ti todos os dias!

Esta mãe soltou a mão de Maurício e saiu reconfortada por eu considerar e aceitar seu sentimento de dor e desfazendo a fantasia de que eu iria roubar o seu filho ou o seu lugar na vida dele.

O sentimento de ser acolhido nos reforça em nossa energia para romper, por mais contraditório que possa parecer. Quando somos acolhidos nos sentimos considerados e isso nos reforça em nossa força existencial no mundo e nos encoraja a marcar mais o nosso lugar com invenções para a solução de nossos problemas. Logicamente, a qualidade dessas invenções (construções) vai depender da qualidade das provocações que o meio social oferecer.

Em didática, isto significa dizer que temos que conhecer os processos de construção de esquemas de pensamento para compreender o que nosso aluno tem como concepção, em qualquer nível de ensino, e poder organizar provocações.

Em pedagogia isto significa dizer que precisamos conhecer a psicanálise, a antropologia, a sociologia, a filosofia aplicada à educação, além das teorias da aprendizagem para que construamos uma base teórica que sustentará nossas ações planejadas e intuitivas.

Como referência afetiva e cognitiva deste grupo de aprendizagem, o professor precisa acolher a inteligência do aluno (com todas as suas incompletudes) e organizar situações e procedimentos no meio social (a sala de aula, no caso da aprendizagem formal) para que ele rompa com estes esquemas e invente caminhos na busca de estabilizar uma nova concepção, mais avançada, ficando desse modo mais inteligente.

A inteligência é um processo e nosso papel profissional é produzir inteligência!

Acolher, no início do ano letivo e na alfabetização, de forma a favorecer os vínculos entre professor e aluno, entre aluno e escola, entre escola e conhecimento é um movimento fundamental para a viabilização da “produção de inteligência” (ensinagem) e para a democratização do saber.

Este momento é crucial!

Se algo do aluno: sejam suas hipóteses, seja sua atitude, sejam seus medos, seja sua família, etc., não forem acolhidos (para posteriormente ser problematizado e superado), corre-se o risco de perder o aluno todo, pois se suas idéias, sua origem social, sua estrutura familiar, seus medos, se tudo isso faz parte dele, não há como esperar que se parta e esteja na aula inteiro.

Acolher é receber o aluno inteiro!