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sábado, 7 de maio de 2011

Turma: grupo de sujeitos que aprendem

Janice Viegas Pereira

Maurício era um faltante esporádico, daqueles que nos preocupa na proposta geempiana/pós-construtivista, e nesta semana foi o meu grande resgate!

Sexta feira, dia 06 de maio, Maurício escreveu seu nome pela primeira vez sozinho e aprimorou sensivelmente o traçado das letras.

O que mudou? Qual a descontinuidade da ação pedagógica que provocou esta mudança de caminhos no comportamento e desempenho?

Desde o início estava tendo dificuldades para incluir o Mauricio no meu universo ensinante. Seus esquemas primários me apavoravam. Não por que achasse que ele tinha alguma deficiência, ou dificuldade, mas porque eu não sabia o que fazer efetivamente do ponto de vista didático.

Fiquei buscando alternativas de proporcionar experiências com o traço, mas percebi que não estava acolhendo nada do que ele produzia no grafismo. Queria que ele fizesse letras quando ele não tinha fechado a forma ainda.

O clímax de toda esta busca aconteceu hoje!

Durante a semana comecei a pensar na questão do traço e percebi que teria que proporcionar espaços de problemas para trabalhar esta questão. Teria que ser algo rápido, sistemático, que oportunizasse diariamente a escrita livre de “letras”, além do momento do desenho.

Mauricio não tinha identidade na turma e literalmente ele não estava sendo meu aluno, porque aluno é o sujeito que aprende.

Eu não estava conseguindo ser sua professora porque não conseguia ensiná-lo, não sabia o que fazer.

Porém ao propor-me a pensar e estudar sobre este processo que eu ignorava, não fiz um estudo profundo sobre a questão do traço e movimento, obvio que busquei informações sobre isso, mas essencialmente estudei a fundo sobre o princípio maior da aprendizagem, qual seja, o de que ela é um processo social com potencial eterno, mas que depende das experiências, das provocações e do acolhimento. Percebi que precisavam de experiências de traçado, muitas. Precisava mergulhá-lo no traço como na leitura e na escrita.

Não adiantava esperar que ele avançasse sem considerar que precisava de um olhar especial e pior ainda seria pensar em atividades que o excluísse da turma: atividades individuais, em separado, como um reforço. O que ele precisava era sentir-se sujeito desta turma. Ele estava sem identidade na turma, mas principalmente para mim. Eu não sabia quem ele era, ou mais drasticamente, posso afirmar que ele não estava bem definido como um indivíduo existente no meu universo ensinante.

Diante do exposto, pretendo mostrar que meu olhar sobre ele não mudou por acaso. Houve um movimento que provocou a descontinuidade do processo que estava se desenhando.

Hoje, conversei com a turma sobre a questão da aprendizagem do nome do Maurício. Obviamente que não foram os colegas que ensinaram o Maurício, do ponto de vista didático, mas algo aconteceu no âmbito dramático.

Valorizei muito seus desempenhos, cada presença super comemorada, cada traço super acolhido! Olhos nos olhos, olhos no conhecimento!

Ao enxergar-se, de forma positiva, como alguém presente no meu universo de pensamentos, centro de uma assembléia com toda a turma, Maurício passou a existir concretamente no panorama da turma: grupo de sujeitos que aprendem e concretamente aprendeu o seu nome a partir da construção de sua identidade como aluno.

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