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terça-feira, 24 de maio de 2011

Greve dos Municipários

Como não concordar com as reivindicações salariais dos professores e demais municipários se o que vemos amplamente divulgado nos meios de comunicação são deputados concedendo aumentos a si próprios, a completa ausência de isonomia salarial dentro dos órgãos do governo municipal, o desperdício do dinheiro público, sem contar os milhões de reais que são desviados em negociatas entre os grandes.
É sabido que a escola está ensinando pouco, mas são os professores que devem pagar esta conta sozinhos? E os legisladores, e os magistrados e os grandes que são tão responsáveis quanto os professores, pagam o que, quando e como?
Minha posição ficou clara a quem pode me ouvir: estou apoiando a greve, mas faço questão de recuperar e fiscalizar a recuperação de hora por hora, ou melhor minuto por minuto do que os alunos estão perdendo de aula.
Somos elitizados e sabemos nos organizar para lutar pelos nossos direitos, mas quem vai gritar pelos direitos dos alunos que tem urgência de uma educação de qualidade?

sábado, 7 de maio de 2011

Turma: grupo de sujeitos que aprendem

Janice Viegas Pereira

Maurício era um faltante esporádico, daqueles que nos preocupa na proposta geempiana/pós-construtivista, e nesta semana foi o meu grande resgate!

Sexta feira, dia 06 de maio, Maurício escreveu seu nome pela primeira vez sozinho e aprimorou sensivelmente o traçado das letras.

O que mudou? Qual a descontinuidade da ação pedagógica que provocou esta mudança de caminhos no comportamento e desempenho?

Desde o início estava tendo dificuldades para incluir o Mauricio no meu universo ensinante. Seus esquemas primários me apavoravam. Não por que achasse que ele tinha alguma deficiência, ou dificuldade, mas porque eu não sabia o que fazer efetivamente do ponto de vista didático.

Fiquei buscando alternativas de proporcionar experiências com o traço, mas percebi que não estava acolhendo nada do que ele produzia no grafismo. Queria que ele fizesse letras quando ele não tinha fechado a forma ainda.

O clímax de toda esta busca aconteceu hoje!

Durante a semana comecei a pensar na questão do traço e percebi que teria que proporcionar espaços de problemas para trabalhar esta questão. Teria que ser algo rápido, sistemático, que oportunizasse diariamente a escrita livre de “letras”, além do momento do desenho.

Mauricio não tinha identidade na turma e literalmente ele não estava sendo meu aluno, porque aluno é o sujeito que aprende.

Eu não estava conseguindo ser sua professora porque não conseguia ensiná-lo, não sabia o que fazer.

Porém ao propor-me a pensar e estudar sobre este processo que eu ignorava, não fiz um estudo profundo sobre a questão do traço e movimento, obvio que busquei informações sobre isso, mas essencialmente estudei a fundo sobre o princípio maior da aprendizagem, qual seja, o de que ela é um processo social com potencial eterno, mas que depende das experiências, das provocações e do acolhimento. Percebi que precisavam de experiências de traçado, muitas. Precisava mergulhá-lo no traço como na leitura e na escrita.

Não adiantava esperar que ele avançasse sem considerar que precisava de um olhar especial e pior ainda seria pensar em atividades que o excluísse da turma: atividades individuais, em separado, como um reforço. O que ele precisava era sentir-se sujeito desta turma. Ele estava sem identidade na turma, mas principalmente para mim. Eu não sabia quem ele era, ou mais drasticamente, posso afirmar que ele não estava bem definido como um indivíduo existente no meu universo ensinante.

Diante do exposto, pretendo mostrar que meu olhar sobre ele não mudou por acaso. Houve um movimento que provocou a descontinuidade do processo que estava se desenhando.

Hoje, conversei com a turma sobre a questão da aprendizagem do nome do Maurício. Obviamente que não foram os colegas que ensinaram o Maurício, do ponto de vista didático, mas algo aconteceu no âmbito dramático.

Valorizei muito seus desempenhos, cada presença super comemorada, cada traço super acolhido! Olhos nos olhos, olhos no conhecimento!

Ao enxergar-se, de forma positiva, como alguém presente no meu universo de pensamentos, centro de uma assembléia com toda a turma, Maurício passou a existir concretamente no panorama da turma: grupo de sujeitos que aprendem e concretamente aprendeu o seu nome a partir da construção de sua identidade como aluno.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pensando no traço

João Paulo e Maurício não sabem reproduzir sequências de letras. Não respeitam a ordem. Não logram sequer reproduzir os traços das letras. Não coordenam o que vêem com o que reproduzem. Para eles a linguagem só aparece depois do traçado. Eles não são capazes de dizer e fazer ao mesmo tempo: risquinho reto de pé, risquinho embaixo deitado, preso na pontinha de baixo indo pro lado de “lá”.

A grosso modo é como se mão deles se movimentasse sozinha mesmo. Pensando nos bebês que têm movimentos involuntários, que chutam, que esticam os braços, que encolhem e esticam bem rápido as pernas, que são “ensaios” para movimentos coordenados pelo cérebro, consigo fazer uma relação com a escrita de letras. João Paulo e Maurício escrevem involuntariamente, parece que o cérebro não consegue ainda coordenar os movimentos que as mão fazem com o lápis.

Por quê?

Vamos pensar!

Esse é o panorama conceitual deles no que se refere aos traços.

Ora, se eles ainda não conseguem coordenar os movimentos é porque não tiveram experiências de riscar, de ver e rever os efeitos que o seu movimento provoca no papel. Assim como os bebês se movem involuntariamente, percebem os efeitos que isso causa, sendo gradativamente capazes de repetir as experiências, com consciência, penso que estes alunos precisam ser provocados a muitas experiências de traços, mas repito, de traços, não de letras especificamente. Eles “ensaiaram” muito pouco.

Sempre relacionamos a aprendizagem da escrita com a da fala, quer dizer, não selecionamos as palavras por complexidade para falar na frente de bebês e crianças. Simplesmente falamos e os bebês começam a querer repetir e erram e tentam de novo e repetem. Ninguém se apavora se uma criança diz: balata, ao invés de barata. Ninguém diz: ah, meu Deus, tem uma dificuldade na cabeça.

Na escrita, a nossa defesa pós-construtivista é a de que se aprende a falar falando, se aprende escrever, escrevendo e a se aprende a ler lendo.

Este é o princípio! Então, como levar isso pra questão do movimento?

Escrever letras está totalmente relacionado com movimento, em outra escala. Na escala da representação, reprodução, simbolização gráfica.

Sim, mas e daí? Como fazer para recuperar uma defasagem tão grande! A turma inteira já copia palavras , letras e alguns são capazes de copiar pequenos textos e eles nem logram ter ainda intencionalidade e controle dos traços.

Se lhes faltam experiências, temos que craniar para que tenham experiências que possam acelerar o seu processo na escola. É pra isso que existimos!

Ok, eles precisam traçar, traçar, traçar e traçar. Precisam repetir traços, tentar fazer letras, errar, fazer de novo, deixar a mão fazer movimentos para que se surpreendam com eles mesmos, para que se impressionem quando virem que um risco sem intenção parece um L. Eles precisam tentar, repetir, errar, tentar de novo, conseguir, ficar feliz!

Mas por que razão, com qual motivação? Como forjar em sala de aula uma situação significativa, que não os rotule de incapazes perante a turma, que não os desloque das atividades que os colegas estão realizando?


Pensei num campeonato de escrita de letras.

No primeiro dia entregaria ¼ de folha de ofício e pediria que cobrissem a folha toda com letras, frente e verso.

Contaríamos as letras, símbolos, riscos que cada um conseguir colocar na sua folha e iniciaríamos um ranking, com direito a cartaz (de papel pardo, neh?).

Ao final de um determinado prazo, que pode ser uma semana, fecharíamos o ranking e identificaríamos os vencedores.

A cada dia eu entregaria um pedaço de papel, fazendo parte da rotina, para o campeonato de escrita de letras. Poderia colocar o despertador do celular para marcar o tempo.

Pensei em algumas regras: “letra” feita por cima de outra não será contada; não pode usar borracha; os traços devem ser variados ( não vale só A, por exemplo).

Obvio que vou acolher qualquer traço, porque o que eu quero mesmo é que o João Paulo e o Maurício tenham muitas experiências de traços e experiências acolhedoras, que os valorize.

Os alunos que já sabem fazer letras também vão gostar, pois é uma atividade que acolhe algo que eles sabem.

É uma atividade que ocupará de 5 a 10 minutos por dia e pode suprir as necessidades deles de riscarem.

Que acham?

domingo, 1 de maio de 2011

Eleição de coordenadores e formação dos grupos áulicos*

Janice Viegas Pereira



* A denominação “grupos áulicos” tem origem na palavra “aula”, ou seja, são grupos organizados para o trabalho em aula. “Grupos áulicos: a interação social na sala de aula – Porto Alegre – GEEMPA, 2005”



Incrível o que é capaz de fazer a eleição de coordenadores e formação dos grupos áulicos em uma turma!

Realizei hoje com a turma da manhã e mais uma vez, um espetáculo de aula!

A postura deles muda completamente!

Primeiro, ao visualizarem os gráficos de escada oriundos da análise do desempenho dos alunos na aula-entrevista**, eles percebem que há um retorno da sua avaliação, que a professora conhece o seu processo e essa atitude gera um clima de confiança entre ambos. A professora porque sabe que as hipóteses são movimentos inteligentes na elaboração de problemas e acolhe a todas elas e o aluno porque se sente acolhido e seguro em suas capacidades de seguir adiante.

Ao propor que escolham e votem em colegas com os quais querem aprender, querem trocar e a quem querem ensinar, apoiados em gráficos de escada, que representam um recorte da rede de hipóteses de cada um no campo conceitual da alfabetização, os alunos se sentem respeitados e compreendem a mensagem que vai nas entrelinhas: estamos aqui para ensinar uns aos outros!

Posterior a votação, os convites partem primeiramente do coordenador eleito e têm a possibilidade de serem aceitos ou não, o que confere um sentimento de responsabilidade e de pertença a cada integrante dos grupos.

Os conhecimentos de cada um, na perspectiva Geempiana/Pós-construtivista, são valorizados e respeitados. Expor os gráficos não é de forma alguma, um modo de classificar os alunos em fracos, medianos ou fortes.

Muito antes, pelo contrário! A exposição destes gráficos precisa ter como base a certeza de que as hipóteses dos alunos, por mais primárias e absurdas que pareçam, são processos inteligentes na busca da compreensão da leitura e da escrita. Não se trata de uma caracterização de níveis de capacidade inteligente e sim a verificação da rede de esquemas de pensamento que o aluno teceu em seu processo, a partir de suas experiências. Se um professor expõe os níveis de seus alunos de forma classificatória, pensando que os alunos dos níveis mais primários tem dificuldades, considerando seus erros como expressão de incapacidade, certamente ela terá problemas na condução dos grupos áulicos.

A eleição de coordenadores e formação de grupos áulicos geempiana não fará nenhum efeito se usada apenas como uma técnica “democrática” de organização dos grupos de trabalho em sala de aula. Ela precisa ser entendida como uma ação que tem muitas bases teórico-práticas envolvidas, sendo algumas delas, a consideração dos erros como hipóteses de um processo inteligente, a certeza de que "Todos Podem Aprender se devidamente provocados" (Esther Grossi), o entendimento de que a aprendizagem é algo que acontece socialmente, em grupo e finalmente que todo o grupo, para ser grupo mesmo, produtivo, precisa de um coordenador.



** Aula-entrevista é um momento de interação entre professor e aluno, que ocorre individualmente com cada alfabetizando,em diferentes momentos do ano letivo e que consiste na realização de 10 tarefas relacionadas ao campo-conceitual da alfabetização. “Aula-entrevista: caracterização do processo rumo à escrita e à leitura – Porto Alegre:GEEMPA, 2010”