Páginas

Seja bem-vindo

TODOS PODEM APRENDER

domingo, 1 de maio de 2011

Eleição de coordenadores e formação dos grupos áulicos*

Janice Viegas Pereira



* A denominação “grupos áulicos” tem origem na palavra “aula”, ou seja, são grupos organizados para o trabalho em aula. “Grupos áulicos: a interação social na sala de aula – Porto Alegre – GEEMPA, 2005”



Incrível o que é capaz de fazer a eleição de coordenadores e formação dos grupos áulicos em uma turma!

Realizei hoje com a turma da manhã e mais uma vez, um espetáculo de aula!

A postura deles muda completamente!

Primeiro, ao visualizarem os gráficos de escada oriundos da análise do desempenho dos alunos na aula-entrevista**, eles percebem que há um retorno da sua avaliação, que a professora conhece o seu processo e essa atitude gera um clima de confiança entre ambos. A professora porque sabe que as hipóteses são movimentos inteligentes na elaboração de problemas e acolhe a todas elas e o aluno porque se sente acolhido e seguro em suas capacidades de seguir adiante.

Ao propor que escolham e votem em colegas com os quais querem aprender, querem trocar e a quem querem ensinar, apoiados em gráficos de escada, que representam um recorte da rede de hipóteses de cada um no campo conceitual da alfabetização, os alunos se sentem respeitados e compreendem a mensagem que vai nas entrelinhas: estamos aqui para ensinar uns aos outros!

Posterior a votação, os convites partem primeiramente do coordenador eleito e têm a possibilidade de serem aceitos ou não, o que confere um sentimento de responsabilidade e de pertença a cada integrante dos grupos.

Os conhecimentos de cada um, na perspectiva Geempiana/Pós-construtivista, são valorizados e respeitados. Expor os gráficos não é de forma alguma, um modo de classificar os alunos em fracos, medianos ou fortes.

Muito antes, pelo contrário! A exposição destes gráficos precisa ter como base a certeza de que as hipóteses dos alunos, por mais primárias e absurdas que pareçam, são processos inteligentes na busca da compreensão da leitura e da escrita. Não se trata de uma caracterização de níveis de capacidade inteligente e sim a verificação da rede de esquemas de pensamento que o aluno teceu em seu processo, a partir de suas experiências. Se um professor expõe os níveis de seus alunos de forma classificatória, pensando que os alunos dos níveis mais primários tem dificuldades, considerando seus erros como expressão de incapacidade, certamente ela terá problemas na condução dos grupos áulicos.

A eleição de coordenadores e formação de grupos áulicos geempiana não fará nenhum efeito se usada apenas como uma técnica “democrática” de organização dos grupos de trabalho em sala de aula. Ela precisa ser entendida como uma ação que tem muitas bases teórico-práticas envolvidas, sendo algumas delas, a consideração dos erros como hipóteses de um processo inteligente, a certeza de que "Todos Podem Aprender se devidamente provocados" (Esther Grossi), o entendimento de que a aprendizagem é algo que acontece socialmente, em grupo e finalmente que todo o grupo, para ser grupo mesmo, produtivo, precisa de um coordenador.



** Aula-entrevista é um momento de interação entre professor e aluno, que ocorre individualmente com cada alfabetizando,em diferentes momentos do ano letivo e que consiste na realização de 10 tarefas relacionadas ao campo-conceitual da alfabetização. “Aula-entrevista: caracterização do processo rumo à escrita e à leitura – Porto Alegre:GEEMPA, 2010”